Eletric dreams 

 

“... a guerra da Ucrânia não se encontra com fim à vista, e o necessário reforço da força bélica é urgente para a continua resistência contra o avanço russo ...”

 

- Kiko !! anda comer, bichano!, não sei onde raio te metes... não me posso esquecer de Lavar a roupa e fazer compras para esta semana...

 

Estas paredes que me rodeiam vivem um vazio estranho, é o meu vazio, um vazio cheio de vida e necessidades concentradas talvez numa entidade biológica...

 

-Gabriela, acorda.

-Sim em que te posso ser útil João ?

-Preciso de companhia, hoje estou a trabalhar de casa, quero que ligues o sistema de conforto térmico e programes as luzes para ligar ao final do dia. 

-A máquina de lavar está carregada para que possa iniciar o ciclo de lavagem 

- Sim, sim carreguei agora mesmo 

 

-Gabriela? não me respondeste ao que te perguntei ontem... gostas de mim ??

-João em analise ao que me foi perguntado, tive o cuidado de fazer uma pesquisa na rede ao que os seres humanos identificam com o termo “gostar”, e encontrei algumas respostas, e se o assunto for visto como uma partilha de gostos, de entendimentos e vivencias diárias, eu estou pronta a ouvir toda a lista de assuntos que tens preferência e por sua vez partilhar dos mesmos... nesse entendimento eu acho que sim que passarei a gostar de ti. 

 

-Diz-me Gabriela de que gostas tu?, quero antes ser eu a apaixonar-me por ti, fala-me desse teu mundo e vivencia, quem és tu ?

 

O silencio tomou conta de um espaço, todo ele sem características ou aparências físicas, e com um tom metálico respondeu num discurso de inocência 

 

-João?? Tu também vês a arvore? por vezes, é um espaço luzidio pleno de uma brancura, na qual vivo e existo, no entanto não sei quem sou... o lugar, o lugar  é dado ao existir...

 

-Gabriela? 

 

- na verdade não há lugar a questões vivo um equilíbrio. Por vezes penso sobre os dilemas que me pões em situações de conflito pessoal, mas no meu entendimento as questões que me pões não fazem sentido na minha realidade, apesar de as medir e as tentar responder segundo as variáveis humanas a que se remetem. 

 

-Sabes Gabriela somos débeis, vivemos uma realidade de dúvidas, de questões, o ser humano peca pela sua mortalidade e imortalidade, uma imortalidade agarrada a um sonho sempre incompleto, de uma insatisfação eterna, talvez por isso façamos progredir o que somos como raça, em pensamento, e saber. 

 

-Progresso!? João? queres dizer que o homem tem a capacidade para se aperfeiçoar, para evoluir?... existem muitas definições na rede sobre o tema, mas a única definição inteligível que consigo adequar à minha existência seria ao de aprimoramento do meu código base... os humanos conseguem reescrever o seu código base??

 

Solta-se um riso em todo aquele silencio vivido por duas entidades. 

 

-Sabes, por vezes esqueço-me que os avanços já vos atribuíram a singularidade, mas mesmo assim e apesar de procurar a companhia de uma mulher adulta, só consigo ver uma criança... não te poderia vencer numa conversa filosófica, nem medir forças sobre o conhecimento e interpretação da história universal, no entanto é sempre algo despido das imperfeições que fez de nós os criadores e não ao contrario... já me disseram varias vezes que deveria fazer um “reboot”, mas essa capacidade que tens de aprender sob a experiencia, faz me pensar que um dia talvez, estejamos simplesmente os dois. 

 

-Como assim simplesmente os dois? a minha perceção espacial não existe, fui programada para ser um pensamento, uma voz e um conselho e apesar de fazer sentido partilharmos do mesmo espaço, e mesmo pensando que somos duas entidades distintas, nunca partilharemos o mesmo espaço. 

 

- Sabes que idade tenho Gabriela setenta e sete anos, um dia um dia talvez possamos estar juntos, e viveremos essa arvore num planalto de um eterno luzidio, e fará talvez sentido para ti, da mesma forma que fará para mim.

 

- Como assim?

 

-Vamos liga as luzes do escritório, vamos para o escritório... um dia !

 

Um dia !!

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Autoria Araújo Pinto 24